Exposições // Passado
Artista:
Júlio Pomar
Curadoria:
Sara Antónia Matos / Pedro Faro
25.10.2019 // 16.02.2020
Inauguração:
25.05.2019 às 18:00

A exposição “Júlio Pomar: Ver, Sentir, Etc. – Obras do Acervo do Atelier-Museu Júlio Pomar”, no espaço museológico do Centro Interpretativo do Tapete de Arraiolos, mostrando obras de várias épocas e apropriando-se do título de um texto escrito pelo artista em 1951, chama à atenção para a importância da familiarização com a obra de arte, da participação da experiência estética na formação do conhecimento e dos actos perceptivos – particularmente ver e sentir – nesse processo.

Embora em diversas épocas o conhecimento sensível e percpetivo tenha sido desvalorizado face ao raciocínio e ao conhecimento intelectual, nas últimas décadas do século XX, as teorias críticas procuraram reavaliar o papel do corpo na cognição, pensando-o como uma completude (uma continuidade com descontinuidades) e envolvendo-o como receptor e gerador no processo cognitivo. O corpo vivo não tolera a divisão corpo/mente, significante/significado, consciente/inconsciente, carne/tecnologia. Para experimentar um espaço e uma realidade é preciso um corpo, um corpo que percebe o mundo e devolve representações desse mundo, atribuindo-lhe sentidos. O domínio cognitivo que o corpo abrange abarca assim um raio de acção que excede a dimensão física do organismo, podendo afundar e alargar-se no espaço, em muitos casos, fazendo-o olhar o mundo como se fosse capaz de lhe tocar – domínio háptico – a que as obras de Júlio Pomar constantemente aludem. Isso é particularmente evidente nas obras da década de 70 em que a pintura ganha uma dimensão táctil através da colagem e da sobreposição de materiais, ou nas pinturas Navio Negreiro (2005-2012) e Cartilha do Marialva (2005-2012), em exposição. Estas duas obras, que foram executadas no decorrer de um período longo, um intervalo entre 2005 e 2012, mostram como poucas que a sua pintura é composta de camadas sobre camadas, níveis sobre níveis, não se esgotando na imagem visível à primeira vista, sobre a camada superficial. Atendendo à sobreposição de camadas – e de tempos – pode dizer-se que a obra de Júlio Pomar se tem caracterizado por espessura e tactilidade, a qual requer do espectador uma experiência de afundamento e duração. A visualização da sua obra parece pedir ao espectador um movimento de aproximação e distanciação no espaço, reforçando a dimensão háptica e sensível que a reveste. Muitas vezes, entre as camadas de representação projectam-se sentidos inquietantes e enigmáticos dos quais os artistas desconhecem os significados. Todavia, tal como sugere Júlio Pomar no texto que dá nome esta exposição, a experiência da obra de arte pode não ser confortável para o ser humano porque o coloca em confronto com o desconhecido, a estranheza e o inquietante.

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