
A Júlio Pomar (1926-2018) se devem várias das pinturas mais relevantes produzidas no contexto do neorrealismo português e de resistência ao fascismo. Entendeu o neorrealismo não como um formulário estético, mas enquanto atitude para a construção daquilo a que Bento de Jesus Caraça chamou a «cultura integral do indivíduo», advogando que a revolução e a liberdade não eram possíveis sem cultura artística, literária e política.
Pomar realizou também importantes obras de gravura e de pintura mural, defendidas pelos neorrealistas como o melhor meio para comunicar um conteúdo político e social. A sua obra seguiu por diferentes caminhos a partir de meados da década de 1950, tornando-se mais gestual, e, no final dos anos 1960, mais Pop, para depois deambular em diferentes registos, entre o desenho, a obra gráfica e a composição palimpséstica de referências. No entanto, Pomar nunca deixou de fazer arte política, incorporando-a na experimentação formal que não cessou de praticar. Afastando-se de um entendimento do «neorrealismo» enquanto categoria histórica simples e fechada, esta exposição propõe uma revisitação de diferentes momentos e linguagens do trabalho visual de Júlio Pomar a partir do ponto de vista das sucessivas politizações da arte. As obras desta mostra, feitas ao longo de mais de cinquenta anos de criação plástica, ressoam a urgência, que não deixou de ser sentida até hoje, de pensar a intervenção da arte na sociedade ou arte enquanto política. A escolha dos curadores procura repensar a complexidade destas modalidades e a permanente variabilidade das relações entre arte e política no último meio século da arte contemporânea.