Exposição
Artistas:
Ana Pérez-Quiroga / Ana Pissarra / Cecília Costa / Fernando Calhau / Helena Almeida / João Maria Gusmão e Pedro Paiva / João Pedro Vale e Nuno Alexandre Ferreira / Jorge Molder / Josefa d’Óbidos / Júlio Pomar / Luisa Cunha / Paulo Lisboa / Pedro Vaz / Raul Domingues / Ricardo Jacinto / Rui Chafes / Sara & André / Sandro Resende
Curadoria:
Marta Rema
31.01.2019 // 21.04.2019
Inauguração:
31.01.2019 às 18:00

O Atelier-Museu Júlio Pomar inaugura, no dia 31 de janeiro, às 18:00, a exposição coletiva “muitas vezes marquei encontro comigo próprio no ponto zero” — proposta curatorial de Marta Rema, que venceu a terceira edição do Prémio de Curadoria Atelier Museu Júlio Pomar / EGEAC 2018-19.

Muitas vezes marquei encontro comigo próprio no ponto zero reúne trabalhos que abordam o desejo de pensar o silêncio nas suas múltiplas dimensões — corporal, artística, visual, temporal, política, real e imaginária. O projeto, resultado do prémio de curadoria atribuído por esta instituição, tendo tido como júri João Fernandes, Luiza Teixeira de Freitas e Sara Antónia Matos, conta com a presença dos seguintes artistas: Ana Pérez-Quiroga, Ana Pissarra, Cecília Costa, Fernando Calhau, Helena Almeida, João Pedro Vale & Nuno Alexandre Ferreira, João Maria de Gusmão e Pedro Paiva, Jorge Molder, Josefa d’Óbidos, Luisa Cunha, Paulo Lisboa, Pedro Vaz, Raul Domingues, Ricardo Jacinto, Rui Chafes, Sandro Resende, Sara & André e do próprio Júlio Pomar, de quem são mostrados os desenhos da prisão realizados no Forte de Caxias, onde o artista esteve detido de 27 de abril a 26 de agosto de 1947.

Através de diferentes propostas contemporâneas, este projeto curatorial procura refletir sobre a forma e o lugar do silêncio no mundo, tendo em conta que aparentemente este se tem tornado cada vez mais ruidoso. O título da exposição toma de empréstimo uma frase de Júlio Pomar, retirada de um capítulo do seu livro Da Cegueira dos Pintores, intitulado “Pisar o mesmo caminho”.

Pois o que é o silêncio? A resposta clássica seria ausência de vibrações mecânicas transmitidas pelo ar. O silêncio pressupõe que qualquer coisa exterior ao ser humano estaria em estado de repouso ou seria anulada por algum efeito. O ruído seria neste sentido tudo aquilo que, não desejado, imprime uma qualidade de perturbação ao sinal: ou o próprio sinal. Na verdade, nunca houve silêncio. Sempre houve muito ruído. E o silêncio é, por vezes, a representação do vazio, da ausência de algo, de um termo, de outro elemento ou pessoa. Nesta aceção, parece estar a tornar-se, como diria Gordon Hempton, numa espécie em extinção. O silêncio pode ainda ser pensado enquanto instrumento de auto-preservação: revela inadequação, mal-estar, incapacidade ou impossibilidade de relação com o outro ou simplesmente uma relação complexa e contraditória. Aquilo que preferimos não dizer, que não queremos, não podemos ou não devemos pronunciar, constitui a essência dessas relações silenciosas, porventura, denunciando mais o que é dito ou verbalizado de modo explicito. Isto significa que o silenciado tem também uma força definidora, vinculativa, com consequências palpáveis. São disso exemplo os silêncios que se fazem sobre determinados assuntos históricos, políticos e sociais, que ficam nas entrelinhas e fissuras da história e narrativas oficiais, como que apagados, perdidos e silenciados. Tramas imperfeitas como estas, cruzadas e contracurvadas, onde o silêncio introduz ambiguidades e incertezas, deixam-nos perceber que qualquer discurso remete sempre para outro discurso e assim sucessivamente, sem um fim ou começo originais. Se, neste sentido, o silêncio ameaça a exatidão do discurso, do diálogo, da expressão, da comunicação e da liberdade, é também nos silêncios que se podem tentar captar, interpretar e assimilar outros fluxos de pensamento, inéditos e reveladores de alternativas. Enfim, só reconhecemos o que conhecemos: num mundo onde o algoritmo — silencioso e invisível — serve ao controlo de sociedade inteiras, é preciso lembrar que até Bartleby tinha alguma coisa a dizer


Sobre Marta Rema:

Com licenciatura em Filosofia pela Faculdade de Letras e pós-graduação em Estudos Curatoriais pela Faculdade de Belas-Artes, ambas da Universidade de Lisboa. Da sua formação fazem também parte vários Seminários sobre arte contemporânea, curadoria e comunicação. Foi produtora e responsável pela comunicação nas associações Artéria – Humanizing Architecture, Artes e Engenhos, Máquina Agradável e AADK Portugal; foi coordenadora da divulgação e chefe de produção na Terratreme Filmes (2014) de dois filmes de Susana Nobre. Assumiu a direção de Comunicação e a coordenação do Projeto Educativo das duas primeiras edições do festival de artes performativas Materiais Diversos (2009-10). É tradutora de Francês desde 1998. Inventariou e catalogou o acervo documental e bibliográfico do espólio de Agostinho da Silva (1997). Escreveu e publicou textos para a revista V-Ludo, Jornal Torrejano e sobre a obra de diversos artistas, tais como Sandro Resende, Sara Lamúrias, Rui Pedro Jorge e o pintor Urbano. Entre os seus projetos encontram-se: curadoria de três exposições de designers portugueses no Round the Corner (2012); intérprete em Drifting/Em Deriva de António Pedro Lopes e Gustavo Ciríaco (Negócio 2012); com Sofia Borges a vídeo-performance Bardo (Demimonde 2012); Jacarandá com Jonas Lopes (Teatro do Bairro, 2013) e a solo Arlequina (Demimonde, 2013). Publicou a peça de teatro Como um quarto sem telhado pela Coleção de Textos de Teatro do D. Maria II, que foi apresentada no mesmo local no Festival de Leituras Encenadas, em 2016. Escreve regularmente no blogue fogos locais (fogoslocais.blogspot.com).

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